Entrevista com Marcelo Oliveira

“Todos somos instrumentos”

Marcelo Oliveira, 39 anos, é músico. Multiinstrumentista. Toca clarineta, saxofone, flauta, pífano, piano, percussão, escaleta e marimba. Diz estar aprendendo outros. Carioca de Friburgo, há tempos vive em Curitiba. É músico de orquestra. É músico da noite. É músico. E um dos convidados especiais da Mostra Lunares de Flamenco.

Marcelo Oliveira
Marcelo Oliveira, músico

Lunares: Como que a música entrou na sua vida?
Marcelo Oliveira: Pelos ouvidos. Fui percebido como alguém que tinha um tempo livre nas tardes, por um vizinho que era músico de uma banda em Friburgo e que me convidou pra conhecer e comecei a estudar com instrumento emprestado. Foi arrebatador, pela sensação que eu tinha em estar produzindo sons, mesmo ainda muito desafinados, e feios, mas eram feitos por mim.

L: Quantos e quais instrumentos você toca?
MO: Clarineta, saxofone, flauta, pífano, piano, percussão, escaleta, marimba. Ainda não quero dar como terminada essa lista. Estou aprendendo cada vez mais.

L: Você toca instrumentos de sopro. Esses instrumentos têm relação com a voz humana?
MO: Todos nós somos instrumentos. O sopro realmente é algo como a voz, mas tem a máscara do instrumento. Ajuda pra quem é tímido, como eu. Mas sem dúvida, os instrumentos não são nada além de ferramentas de comunicação, devido ao timbre, recursos, mas os instrumentos somos nós mesmos, com as ferramentas pra distorcer os sons externamente.

 

L: Você atua em uma orquestra. O que isso representa para você?
MO: Participar. Unir. Apesar das dificuldades do mundo, a orquestra é algo único nesse sentido. Muitas pessoas juntas, em diversos fatores sintonizados, em outros não, mas em grande parte, uma escola sem fim de possibilidades. É também um exercício de convivência para uma coisa em comum, uma intimidade e cumplicidade de atitudes somadas. Minha principal escola de composição.

L: Qual a sua relação com a cultura flamenca?
MO: O efeito que a música flamenca produziu em mim foi pela energia e pela força do discurso musical. A dança me seduziu depois, mas também foi impressionante, tanto que me relaciono com uma bailaora. Mas a música me instigou a participar, principalmente pelo nervoso de suas articulações, algo de antigo na estrutura mas com um que de atual e vivo, provocante. Tenho uma gama de atividades muito variada, que impossibilita uma dedicação maior, mas procuro estar presente, com uma dose de pessoal nos efeitos que misturo, sem atrapalhar, claro.

L: Qual a diferença entre tocar flamenco e os outros tipos de música?
MO: Não existe uma diferença especial. Só as óbvias em relação a estilo. Mas vejo os diversos estilos que toco com suas diferenças claras. Mas sinto o mesmo que estar participando de outras atividades musicais, guardadas as proporções de destaque. No choro, por exemplo, me coloco muito mais exposto, mas a sensação de tocar é sempre parecida, estando em apresentações, o respeito ao público sempre é o que mais passa por minha cabeça, antes, durante e depois de tocar.

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