Kátia Simões

Kátia Simões, 40 anos, é bailaora. Uma das convidadas especiais para a estréia da Mostra Lunares de Flamenco. Kátia acumula quase duas décadas de flamenco. Nos palcos e também como professora. Ela comenta, nesta entrevista exclusiva, a sua história ligada ao flamenco e revela ainda um desejo que pode se tornar realidade.

Lunares: Como o flamenco entrou em sua vida?
Kátia Simões: Em 1989 vi o filme “Amor Brujo”, do Carlos Saura. Saí do cinema decidida a me tornar bailaora. Com isso, digo que o flamenco te detona de primeira. Não tem como gostar do flamenco aos pouquinhos. É algo visceral logo de cara.

Kátia Simões
Kátia Simões, bailaora

L: Poderia comentar como foi o seu aprendizado de flamenco?
KS: Iniciei no flamenco com a Morita, aqui em Curitiba. Estudei dois anos com ela, de 1989 a 1990. Depois, vi uma apresentação da Maria Emília, que hoje vive na Espanha. Fizemos parcerias misturando flamenco e elementos cênicos. Na seqüência conheci a Pilar Gonzáles, do Centro Espanhol do Paraná, com quem também aprendi. Então, passei a primeira temporada na Espanha, durante três meses. De volta ao Brasil, fiz cursos em São Paulo com bailaores espanhóis. E assim, desde então, estou constantemente em busca de aprimoramento.

L: Como você define o flamenco?
KS: É impossível fazer flamenco para relaxar. Sinto muita tensão, de tremer o tempo todo. O flamenco me deixa com os poros abertos, os pelos arrepiados. O flamenco é um fio esticado.

L: Você se transforma enquanto baila?
KS: Me considero agressiva dançando. Naturalmente eu tenho isso. Só que na dança fica mais evidente. Mas você pode ter a sua identidade enquanto pessoa e vestir uma personagem para dançar flamenco. Não posso negar que o flamenco mexe com a força interior. O flamenco te coloca tanto pra baixo como pra cima. O flamenco te coloca à prova. O flamenco é um mundo à parte.

L: Por que o flamenco é um mundo à parte?
KS: O flamenco te pega pelo lado emocional, pelo sentimento. Percebo que o flamenco conquista por que diz respeito a sensações e percepções primitivas. E tem mais, diferente de outras danças, no flamenco a estética não é o mais importante. Há bailaoras, independente de questões estéticas, que quando dançam se transformam, se tornam rainhas. Não adianta apenas ser bonita e sensual se não se tem aquela coisa. Aquela outra coisa, que não tem explicação, é o que importa no flamenco.

L: Quais as diferenças entre dar aula e se apresentar em tablados?
KS: Quando você dá uma aula, é preciso ter responsabilidade com o aluno, acompanhar o desenvolvimento dele. Aprendo muito dando aula de flamenco. Você passa um baile e, de repente, o aluno faz um movimento inesperado. É muito enriquecedor. Agora, ao dançar é você e pronto. É diferente. Tão bom quanto dar aula.

L: Qual é o sonho que você ainda não realizou no flamenco?
KS: Eu gostaria de cantar flamenco. Com a bagagem que tenho de baile sei que teria alguma facilidade para me tornar cantaora. Eu já faço canto, mas o canto flamenco é mais difícil. Não existe partitura. Não há professores de cante aqui em Curitiba. Quando o Diego Zarcón vem para Curitiba, faço aulas com ele. No mais, é preciso ouvir bastante para assimilar o som. Por hora, é um sonho. Se um dia eu não puder mais dançar, vou para o cante. Para continuar no flamenco. E para ser feliz.

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