Vinte motivos não perder o XXI Festival de Jerez

Em 2016 o Festival de Jerez completou vinte anos. Vinte anos de um projeto que foi crescendo e hoje é um dos maiores encontros de flamenco do mundo. Vinte anos acolhendo maestros e alunos e promovendo uma rica troca entre todos os amantes dessa arte.

A vigésima edição aconteceu entre os dias 19 de fevereiro e 5 de março deste ano e, por mais um ano, conseguiu extender-se para além dos palcos. O grande leque de atividades e todos os participantes ocuparam a cidade anfitriã do festival durante as duas semanas. A edição refletiu o estado atual do flamenco, o seu presente mostra o futuro prometedor das novas gerações e oferece o lugar merecido dos artistas já consolidados.

Selecionamos 20 motivos que fizeram dessa edição uma grande festa e um grande convite para vivermos, ao menos uma vez na vida essa maravilhosa experiência.

1) Estreias

Uma das coisas mais legais de ir para Jerez no festival é ter a oportunidade de ver a estréia do espetáculo de um grande artista. E a 20ª edição não deixou por menos! A abertura oficial do festival foi memorável com a estréia de “Aparencias”, o novo trabalho de Eva Yerbabuena. Marco Flores também estreiou seu novo projeto “Entrar a Juego” com a direção de Carlos Lerida. Manuel Liñan levou ao teatro Villamarta a estréia de “Reversible”, um espetáculo que pretende romper com as limitações, os medos e os preconceitos. Mercedes Ruiz subiu ao palco para estreiar “Déjame que te Baile”, uma proposta linda, leve, delicada e que contou com músicos brilhantes como os cantaores David Palomar e Jesús Méndez e o toque de Santiago Lara e Paco Cepero.

2) Teatro Villamarta

O emblemático Teatro Villamarta foi construído em 1926 e há 20 anos passou a ser mantido pela prefeitura de Jerez. É o palco principal do festival, e na última edição teve uma programação mais do que especial. Além das estréias recebeu a Companhia Antonio El Pipa; Ana Morales; Andrés Peña e Pilar Ogalla; Úrsula López, Tamara López e Leonor Leal; Rocío Molina; Sara Baras; Ballet Flamenco Jesús Carmona; Shoji Kojima com a colaboração especial de Eva Yerbabuena e Miguel Poveda; Estévez/Paños e Companhia; María Del Mar Moreno e Antonio Malena e a Companhia de Dança Flamenca Carmen Cortés.

3) Cursos

Sem dúvida os cursos oferecidos pelo Festival de Jerez garantem parte do sucesso do evento. Nessa edição foram 43 opções de aulas divididos em 4 níveis e incluindo oficinas de compás, palmas e castanholas. Como nas outras edições, foi possível aprender e conviver um pouco mais com Marcos Flores, Manuel Liñan, Mercedes Ruiz, Olga Pericet, Patrícia Guerrero, Belén Maya, La Moneta, Concha Jareño entre outros não menos importantes. As inscrições começaram em setembro e se esgotaram logo. Os cursos custaram por volta de 350 euros e davam direito aos espetáculos do Teatro Villamarta.

4) Aulas paralelas ao Festival

Além dos cursos oferecidos oficialmente pelo Festival, as academias e peñas da cidade se prepararam com grandes maestros como Pastora Gálvan, La Farruca, El Carpeta, Juan Paredes e Alfonso Losa e ministraram aulas dos mais diversos palos. É uma ótima alternativa para quem quer fazer mais aulas por um preço mais em conta.

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María Terremoto – foto Javier Fergo

5) Cante

Apesar do baile ser o grande protagonista do Festival de Jerez, o cante sempre teve um papel de destaque nas suas edições. Em 2016 dois ciclos foram dedicados a essa arte tão fundamental para o flamenco:

  • O ciclo “De la Raíz” evidenciou os grandes cantaores atuais. No palco da Sala Compañía passaram David Lagos com “Clásico Personal”; Pedro El Granaíno con “Tierra”; o grande Jesús Méndez com “El Concierto”; José Valencia con “Directo”; Antonio Reyes muito bem acompanhado pela guitarra de Diego Del Morao em seu espetáculo “Directo en El Círculo Flamenco de Madrid” e Arcángel con “Olor a Tierra”.
  • No monumental edifício do Alcázar de Jerez, o ciclo “Los conciertos de Palacio” trouxe uma nova geração de cantaores. Cantaram por lá os jerezanos Carmen Grilo e María Terremoto; o vasco Maizenita e José Canela nascido em San Roque (Cádiz). Todos com muita personalidade e evocando suas raízes. José Enrique Morente, filho de Enrique Morente acabou cancelando o show por motivos médicos .

6) Guitarra

Segundo especialistas, a guitarra flamenca passa por uma nova “idade de ouro”. E sem dúvida foi refletido no ciclo “Toca Toque”. Os concertos aconteceram na Sala Paúl e a abertura foi protagonizada por Dani de Morón com sua proposta “El Sonido de mi Libertad”; apresentando seu primeiro disco, o “Punto de Fuga”, Afredo Lagos veio acompanhado pela voz do seu irmão David Lagos e voz e baile de Diego Carrasco; Javier Patino teve como artistas convidados La Macanita e Jesús Méndez; Santiago Lara apostou pela influência do jazz e apresentou “Metheny Flamenco Tribute” e Diego Del Morao encerrou o festival com “Oro Negro”.

7) Fernando de la Rua

Mais uma vez pudemos ver o nos orgulhar da presença do brasileiro Fernando de La Rua no Festival de Jerez. Dessa vez como diretor musical além de guitarrista no espetáculo “5 Lorantes” de Alejandro Molinero. Uma alegria sempre vê-lo brilhando!

8) Intervenções urbanas

Jerez guarda um patrimônio histórico e cultural extremamente rico e único. Fortalezas árabes, palácios renascentistas, conventos barrocos, bodegas e mercados formam a cidade anfitriã desse importantíssimo evento para o calendário flamenco. Com a proposta de redescobrir esse tesouro na última edição, o Festival transformou vinte espaços com a colaboração de vinte artistas para celebrar, em grande estilo, vinte festivais. Um convite mais do que especial!

Essa comemoração aconteceu entre 27 e 29 de fevereiro, onde bailaores e músicos, que fazem parte da trajetória do festival, criaram pequenas intervenções, que duraram de 30 a 45 minutos. O impacto ficou por conta da proximidade com o público e pela oportunidade única de assistir algo pensado exclusivamente para essa edição do festival. Realmente foram momentos memoráveis oferecidos por Mercedes Ruiz, Rubén Olmo, Rocio Molina, Belén Maya, Maria del Mar Moreno, Daniel Doña, Antonio El Pipa, entre outros.

9) Exposições

O Festival de Jerez organiza diversas exposições gratuitas,  só na última edição foram quatro, três delas de fotografia. “Compañía de Bailes Españoles. Argentinita y Pilar López” foi uma iniciativa da própria família e foi composta por 17 trajes originais usados por elas em algumas das obras mais importantes de suas carreiras, como “Cafe de Chinitas” de Garcia Lorca.

“Ceci N’Est Pas Flamenco”, de Daniel M. Patinga, aconteceu no Convento de San Augustin e reuniu fotos de bailaores em pleno exercício de sua arte.
O fotógrafo Juan Salido nos apresentou “Objetivo Flamenco”. Inundando o centro da cidade com fotos feitas entre 2013 e 2015 durante ensaios de grandes espetáculos. O objetivo era captar imagens espontâneas, tanto na plástica quanto na naturalidade e simplicidade com que os artistas encaram esses momentos, longe do grande público.

“Proyecto Presencias” veio da vontade do fotográfo jerezano Juan Carlos Toro de dar vida às vozes dos cantaores de Jerez. As imagens surgiram das pedras e muros em ruínas no centro velho fazendo renascer os lugares desolados através de aparições míticas de El Torta, Fernando de La Morena, La Macanita, Capullo de Jerez…

10) Documentários

A 20ª edição do Festival de Jerez, além de todos os espetáculos de cante, guitarra e baile, presenteou o público com uma programação de documentários. Do qual destaca-se “Jerez, 20 anõs de Festival”, dirigido por Javier Aguillar e Fran Pereira. A produção buscou percorrer os 20 anos de festival, mostrando um caminho longo e árduo cheio de alegrias e de algumas desilusões. Talento, atrevimento, crises, criações e um período crucial para a sua consolidação.

11) Peñas

As peñas nos trazem o sabor autêntico do flamenco de Jerez. O ciclo “De Peña en Peña”, realizado pelo festival permitiu ao público vivenciar uma das experiências mais singulares da cidade. Foram 10 shows, gratuitos, em forma de recitais de cante, guitarra e baile.

O Centro Cultural Flamenco Don Antonio Chacón permaneceu aberto como peña “de plantão”, acolhendo o público depois dos espetáculos e das atividades culturais durante todo o dia até a madrugada.

12) Prêmios

Durante o Festival é realizada a entrega dos prêmios da edição anterior, no Teatro Villamarta e o evento é aberto ao público. Na última edição o primeiro a subir ao palco foi José Galván, muito emocionado, recebeu o prêmio pelo seu filho Israel Galván. O bailaor, que não pode comparecer, ganhou o Prêmio da Crítica, organizado pela Cátedra de Flamencologia.

O Prêmio do Público, oferecido pelo jornal Diário de Jerez com a votação dos espectadores, foi dado a Mercedes Ruiz pelo espetáculo “Ella”. Também muito emocionada dedicou o reconhecimento ao seu pai, falecido em março de 2015.
David Lagos foi premiado como melhor cantaor de acompanhamento. Em cima do palco relembrou as diversas vezes que atuou ao longo dos vinte anos de festival.

Por fim, Luisa Palacio recebeu o Prêmio de Revelação pelo seu espetáculo “Sevilla”, exibido na Sala Compañia em fevereiro de 2015.

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Manuel Liñan em “Reversible” – foto Javier Fergo

13) Prêmios II

A Cátedra de Flamencología de Jerez também concede prêmios durante o Festival. O Premio de Crítica da última edição o ganhador foi Manuel Liñán pelo espectáculo “Reversible”, que foi apresentado no dia 26 de fevereiro. O prêmio da crítica é a mais antiga das premiações feitas no Festival e conta, em sua maioria, pelos votos dos críticos especializados.

O Prêmio Revelação foi dado ao bailaor Antonio Molina “El Choro” por seu espetáculo “Aviso: Bayles de jitanos”, esse prêmio foi criado em 2008 e conta com os votos da imprensa credenciada para o festival.

Os prêmios serão oficialmente entregues na edição de 2017 do Festival de Jerez.

14) Jovens Talentos

O futuro do baile flamenco e da dança espanhola está nas mãos dos jovens intérpretes de hoje. E, por isso, o Festival de Jerez, por outro ano consecutivo, deu a oportunidade aos jovens em formação de participarem desse evento tão importante para o flamenco.

Alunos do Real Conservatório Profissional de Dança Mariemma, Centro Andaluz de Danza e da Fundação Cristina Heeren de Arte Flamenco subiram ao palco da Sala Paúl para mostrar o fruto de um árduo trabalho realizado em aulas dadas por maestros como Ruben Olmo, Rocio Coral, Milagros Mengíbar e Javier Barón.

15) Crianças e Flamenco

A oficina “Atravieso un lunar” foi criada para as crianças que tem o flamenco como disciplina escolar. Os alunos participantes atravessaram um “lunar” gigante como um ato simbólico de adentar o mundo imaginário do flamenco. Foram trabalhados o ritmo, a cor e a forma. O resultado desse estudo foi a colaboração na confecção de uma bata de cola feita de papelão e papel craft. O objetivo desse projeto era aumentar a capacidade de perceber e conhecer mais a fundo o flamenco.

16) Gastronomia

Em 2016 foram iniciados dois projetos que visam unir a cultura flamenca e a gastronomia:

“Flamencook, Cocina con Compás” foi desenvolvido para harmonizar a alta cozinha contemporânea com a pureza dos vinhos, brandis e vinagres de Jerez. O intuito foi interpretar o flamenco através dos sabores, tomando como referência 10 artistas, homanageando-os como patriarcas do cantes, toque e baile e saboreando-os em um menu degustação composto por 10 “tapas”.

Em “Tapateando” a proposta era viver Jerez e seu festival através de uma rota gastronômica pelos bares e tabancos da cidade. Com seus famosos vinhos e tapas servidos a preço popular.

17) Off Festival

O grande público que procura Jerez durante as duas semanas do festival tem a oportunidade de vivenciar uma grande diversidade de atividades além das oferecidas pelo evento. Para os apaixonados por flamenco é possível se inscrever e aulas e também assistir a diversas atuações nos tablados tradicionais jerezanos. Vale muito a pena ficar de olho nessa programação “off festival”, sempre com grandes artistas e maestros. Os “Farrucos” costumam aparecer por ali e vale aproveitar a oportunidade também para conhecer artistas locais, tanto no baile como nos toque e cante.

18) Jerez

Toda a cidade se prepara para os 16 dias de festival. Bares, restaurantes, hotéis, atrações turísticas e lojas se tornam anfitriões para os viajantes de mais de 40 países que vão em busca do mesmo objetivo, ver, sentir e vivenciar o flamenco.

19) Multiculturalismo

Emilio Lledó, famoso filósofo espanhol, disse que a cultura é a verdadeira riqueza de um povo. E essa riqueza é compartilhada por gente de diversos lugares do mundo, que se encontram em Jerez todos os anos para dividir flamenco e muito mais. Entre uma aula e outra, entre um espetáculo e outro as ruas e os bares da cidade ficam tomadas por diversos idiomas que falam a mesma língua através da vontade de trocar experiências.

20) Novidades 

XXI Festival de Jerez acontece entre os dias 24 de fevereiro e 11 de março de 2017. As inscrições já estão abertas e o evento promete muitas novidades. Vida longa ao Festival de Jerez!! Por, pelo menos 20 anos mais!!!!

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