“Todo lo que ha aprendido, pensado, trabajado y sentido, lo utiliza para romperlo en mil pedazos de trozos de emoción, y consigue que al espectador le dé un vuelco el corazón…” (Antonio Canales, 2013).
Essa foi a frase de Canales sobre o bailaor brasileiro que recebeu o primeiro prêmio no Festival Internacional de Dança flamenca em Almería 2013 das do maestro e de Ruben Olmo. ” Esse ano, esse flamenco de coração brasileiro e alma gitana de destaque internacional na dança e arte flamenca também recebe o importante “Premio Extraordinário de Danza de la Comunidad de Madrid”. Ou seja, o talento, a dedicação e o amor ao flamenco tem sido alguns dos elementos intrínsecos do orgulho brasileiro flamenco: Stefano Domit. O bailaor iniciou seus estudos com sua mãe Gisele Domit em Caxias do Sul, e como sabia desde então que sua vida seria dedicada ao flamenco, muda-se para a Espanha e segue seus estudos no Conservatório de Dança Comandante Fortea. Dançou em grandes tablados como Las Carboneras, Casa Patas, Villa Rosa, Cardamomo e Torero e participa de espetáculos de Miguel Cañas em “Del Rumor”, Maria Juncal em “Tercera Llamada” y “Flamenco Nuevo 2”, La Truco en “Sentencia” no XXVII Festival de Jerez em 2013. Desde esse ano, colabora como solista e coreógrafo ao lado de Rocío Montoya na nova produção dos mesmos produtores de Riverdance, em turnê na Irlanda, China, Canadá e Estados Unidos.: “Hearbeat of Home”.
Stefano Domit concedeu uma entrevista ao Flamenco Brasil repleta de alegria, espontaneidade e arte que eu, caro leitor, peço a licença de dar opinião pessoal: além de ler e se deleitar com as falas e fotos de Domit, assistam vídeo que Stefano enviou aos flamencos com tanto carinho falando de sua trajetória.
Como que o Flamenco aconteceu na sua vida?
Desde muito pequeno tive o flamenco presente em casa através da minha mãe Gisele Domit. Ela se desenvolveu como bailarina e eu acompanhei todo o processo, mas foi só quando ela já tinha estabelecido sua própria escola (Tablado Caxias do Sul) que eu comecei a me envolver ativamente. Eu ajudava nos shows tocando cajón e logo depois dançando. Isso aconteceu quando tinha por volta de 12 anos.
O que fazia antes ou pensava em fazer no quesito profissional e como foi o processo de transição para o Flamenco? Ou já sabia que o Flamenco sempre foi o que queria viver?
Decidi ser bailaor profissional cedo, aos 14 anos. Junto com essa decisão também tinha claro que queria morar na Espanha. Na época não sabia ao certo como, nem por quanto tempo ficaria lá. Mas o principal estava claro: queria bailar profisisonalmente, e na Espanha.
Como foi chegar na Espanha a primeira vez? O que você sentiu, lembra-se qual foi o primeiro centro flamenco que pisou, maestro com que teve aula e qual experiência flamenca que mais lhe marcou?
Madrid foi a cidade que me acolheu. Aqui foi onde tive minhas primeiras experiências com o flamenco na Espanha, e sem dúvida o Centro de Arte Flamenco Amor de Dios foi um dos lugares mais importantes na minha formação. Apesar de não ter tido um maestro principal, tive a sorte de aprender de artistas como Miguel Cañas, Maria Juncal, Alfonso Losa, David Paniagua entre outros que foram exemplos importantes. Um dos momentos que me marcou bastante foi uma participação que fiz ao lado de Maria Juncal e Alfonso Losa em uma das salas mais importantes do mundo chamada Concertgebouw em Amsterdam no ano de 2013.
Qual a trajetória na construção de sua carreira artística no berço do flamenco? E os caminhos para conseguir desenvolver sua carreira na Espanha e entrar no circuito flamenco?
Quando cheguei na Espanha sabia que precisava ter mais conhecimento de dança em geral, a pesar de ter claro que queria ser bailaor. Entrei no conservatório e durante seis anos estudei dança clássica, contemporâneo, folclore espanhol, escola bolera, danza estilizada, musica, anatomia, etc. Essa experiência não somente me deu técnica e ferramentas para trabalhar mas também abriu meu campo de visão na dança e despertou interesse por outros estilos de baile. Paralelamente seguia me formando com maestros flamencos na Amor de Dios, vendo muitos espetáculos e desenvolvendo minhas próprias ideias. Aos poucos foram surgindo propostas para trabalhar. O primeiro foi Miguel Cañas com o espetáculo Del Rumor, depois Maria Juncal com Tercera Llamada, La Truco me apresentou ao Casa Patas e mais tarde com seu espetáculo Sentencia que apresentamos no Festival de Jerez, logo participei dos concursos que organizam os Tabalos de Madrid, especificamente no meu caso o Tablao Las Carboneras, onde sigo trabalhando frequentemente. Dedicação, foco, segurança em si mesmo e em minhas escolhas e muito sangue frio foram minhas ferramentas.
Quais são suas influências, inspirações e aspirações?
Farruquito, Rocio Molina, Alfonso Losa, David Paniagua, Maria Juncal, Javier Palacios e mais atualmente Anne Teresa de Keersmaeker, a companhia francesa Peeping Tom, Pina Bausch entre outros são grande parte de minhas influencias e inspirações. Falando de aspirações, posso dizer que segue sendo a mesma desde sempre: poder desenvolver minhas ideias e projetos em minha própria companhia.
E os fatos que marcaram sua trajetória no flamenco até agora? Momentos inesquecíveis e por que?
Me vêm muitos momentos especiais quando penso nisso…meus primeiros espetáculos com Maria Juncal, momentos especiais nas Carboneras, meu primeiro espetáculo Entre Mares, bailar no Concertgebouw de Amsterdam, participar da produção de Heartbeat of Home e fazer tours com essa companhia, receber o primeiro premio de baile das mãos de Antonio Canales e Rubén Olmo, entre muitos outros, mas os momentos que tenho mais carinho são aqueles momentos em lugares inesperados que recebes ensinamentos de maestros e palavras de apoio que são o que de verdade te fazem seguir caminhando.
Sobre Heartbeat of Home, como foi coreografar com Rocio Montoya essa produção dos mesmos produtores de Riverdance?
Essa experiência foi muito diferente do que estava acostumado e inclusive do que eu esperava me envolver em termos artísticos. Uma produção enorme com uma centena de profissionais envolvidos e grandes teatros e públicos. Me ensinou muito sobre organização, empreendimento, visão empresarial de uma obra e muita experiência de grandes palcos. A etapa coreográfica foi densa, como atravessar uma floresta virgem! O que para mim funcionava em um ambiente, já não servia nesse. Foram semanas de exploração duras.
Conte-nos um pouco do “Premio extraordinário de Danza de la Comunidad de Madrid”?
Esse prêmio veio bastante inesperadamente fechar com chave de ouro minha etapa no conservatório. Depois de esses anos de estudo, por mais que tenha aprendido muito nunca me senti preparado ao nível que vejo no meio de trabalho, mas mesmo assim meu conservatório (Comandante Fortea) quis que eu me apresentasse a esta convocatória do estado de Madri representando-os. Há anos não apresentavam um aluno e pelo visto nunca tinham recebido esse prêmio, então foi realmente gratificante para eles e para mim quando recebemos a notícia. O concurso constitui em apresentar dois bailes de diferentes estilos (no meu caso apresentei Flamenco e Danza Estilizada) e apenas podem participar alunos que terminaram seus estudos com um Premio de Grau em suas especializações.
E sobre a China? Como recebeu esse convite e como é um brasileiro de coração flamenco bailar nesse país também amante da arte flamenca?
Nossa turnê com Heartbeat of Home passou por Irlanda, China, Canadá e Estados Unidos e esse ano retornamos a China para visitar 9 cidades. Existem rumores de que seguiremos a outros países como Austrália, Alemanha, e novamente América mas por enquanto não escutei nada de Brasil!
Poderia falar um pouco sobre seu cenário atual? Quais os planos e acontecimentos?
Acabo de terminar uma grande etapa da minha vida e agora meu foco está em explorar com o que aprendi, descobrir-me como bailarino, como bailaor, como artista e como pessoa e mergulhar de cabeça na minha carreira. Posso dizer que tenho um projeto novo em mente, que se Deus quiser será apresentando nas plataformas mais importantes do baile flamenco. Quero falar muito sobre esse espetáculo para todos vocês mas por enquanto só posso dizer o título: Abertuné.
Confira a entrevista exclusiva com Stefano Domit:
É prazeroso ver talentos nacionais despontando no Flamenco e na terra natal dessa arte. Muito bom que jovens como Stefano possam desfrutar das possibilidades que se tem agora, o que era muito difícil no passado por todas as razões.
E deve ser prazeroso pra Gisele ver seu filho estrelando tão bem no mundo artístico e ainda sendo reconhecido.
Que ele tenha muito sucesso e continue este rapaz humilde e perseverante e, acima de tudo, muita, mas muita saúde pra brilhar bastante em sua vida flamenca.