Em sua 19ª edição o Salão Internacional da Moda Flamenca (SIMOF) apostou em um número maior de stands e muita coisa interessante além da passarela. O evento aconteceu em Sevilha, como em todas as edições, e apesar do número reduzido de desfiles, trouxe muitos complementos, novidades em tecidos, estilistas novos e uma praça de alimentação com bastante opções. O FIBES – Palácio de Exposições e Congressos – acolheu quase 60.000 pessoas e muitas novidades. Fez sua pré-estreia com a ECOFLAMENCA, uma passarela com consciência ecológica visando uma cultura mais sustentável e socialmente responsável. Alguns estilistas renomados no mundo flamenco – e fora dele como Agatha Ruiz de la Prada – exibiram trajes feitos com materiais reutilizáveis e participaram de palestras sobre o meio ambiente e sua relação com a moda. Outra novidade ficou por conta da Passarela Solidária que contou com grandes nomes da moda e do flamenco e teve sua verba destinada para a Associação Espanhola contra o Câncer.
“Flamenco”, Lina
LINA inaugurou oficialmente a passarela do SIMOF. A empresa sevilhana, que agora está sob o comando de suas filhas, e em sua trajetória já vestiu tanto as flamencas de “la calle” como as grandes estrelas da música e do baile, trouxe a magia do teatro e dos tablados para a passarela com a coleção “Flamenco”, onde pudemos ver uma rica mistura étnica, cultural e ideológica. Partiu das cores tradicionais do flamenco como o vermelho, preto e branco, até chegar no rosa, que protagonizou a coleção nos seus mais diferentes tons, salpicados por um toque de amarelo. Tal mistura também refletiu na escolha dos tecidos. Como novidade, vimos flamencas com o colo pouco revelado, deixando a sensualidade para as costas. Os flecos foram o complemento ideal para esse tipo de decote. Duas lindas batas de cola abriram e fecharam o desfile, ambas nos tons de vermelho.
“Retazos de mi vida”, Margarita Freire
MARGARITA FREIRE desfilou um pequeno resumo de sua trajetória numa coleção chamada “Retazos de mi vida”, fazendo referência a uma mulher elegante e sensual. Vestidos curtos e longos, cinturas alta e baixa e sua tradicional fórmula saia+camisa, todos com manga longa. Os trajes tiveram um minucioso trabalho nos bordados, texturas, acabamentos e babados.
“Reinas”, Beatriz Reina
Pela primeira vez no SIMOF, BEATRIZ REINA encheu a passarela com acessórios. Brincos, pulseiras, colares, cintos e outros complementos não só para as flamencas mas sim para qualquer mulher livre e estilosa, verdadeiras “Reinas”.
“Universo de colores” , Rocio Peralta
Encerrou o primeiro dia de desfiles, ROCIO PERALTA, com a coleção “Universo de colores” , inspirada na vida de Frida Kahlo. Toda a força, intensidade, riqueza e beleza dessa artista mexicana traduzidas em trajes que levam as cores de sua vida e obra. A estilista sevilhana optou por lunares pequenos e médios – na sua maioria pretos com fundo das mais variadas cores, estampa floral e tecidos lisos com bordados coloridos. Como complemento principal, os mantóns e mantoncillos, que ora se convertiam em ponchos ora enfeitavam os sombreros. No geral, vestidos de corte mais reto, canasteros e com babados menores. A estilista optou, na grande maioria dos trajes, pelo uso do algodão, mas fez uma interessante brincadeira com uma espécie de tule transparente. A pincelada final ficou por conta das muitas flores usadas em companhia das tão tradicionais tranças de Frida.
“Amanecer en Primavera”, Arte y Compás
O segundo dia começou com ARTE Y COMPÁS e sua coleção “Amanecer en Primavera”, inspirada nas cores que amanhecem nos campos do sul da Espanha. Trajes de corte assimétricos, canasteros e muitos babados, principalmente nas mangas. Uma variedade cromática do azul ao rosa, passando pelo verde, branco e cinza. Para os decotes em V, muitos flecos.
“Pirouette”, Ana Morón
Logo em seguida, a jovem estilista sevilhana, ANA MORÓN trouxe para a passarela a coleção “Pirouette”, inspirada no ballet. Mas não só na visão universal que temos, como também no conceito visual do Ballet Tríadico – composto por Oscar Schlemmer, uma das revelações da escola Bauhaus – que revolucionou o clássico e se revelou ao mundo. O resultado é uma coleção rica em detalhes, com cortes e acabamentos dignos de alta costura. Decotes e mangas com figuras geométricas, ganharam o adorno de apliques e correntes douradas. Tecidos nobres combinados com a seda de forma bastante original. Muitos babados que pareciam bailar ao som da uma linda canção. Para as cores, Ana Morón optou pelo branco, azul, vermelho e rosa, além de lunares em diferentes tons. Trajes que, em alguns momentos, nos remeteram a uma flamenca vanguardista.
“Molina 2013”, Molina Moda
A nova coleção de MOLINA MODA é inspirada nos anos 50. Uma das empresas mais tradicionais de Sevilha, recorreu ao clássico porém com ousadia e sempre com muita elegância. Cortes que valorizam o corpo da mulher e marcam bem a cintura. A sua paleta de cores vai desde a pureza do branco até a força do preto, passando por tecidos listrados e algumas estampas. Os flecos deixam de ser um detalhe e aparecem como blusas e calças.
“Más Gaviño que nunca”, Aurora Gaviño
Encerrando os desfiles do segundo dia do Salão Internacional da Moda Flamenca, AURORA GAVIÑO mostrou a coleção “Más Gaviño que nunca”, resgatando sua essência e estilo com mistura de cores, tecidos e complementos. Desfilou flamencas hippies mas muito chiques no melhor estilo Flower Power, que é a sua marca. Na passarela, muita renda e uma verdadeira cascata de babados. Mais do que nunca, Aurora faz do traje regional uma explosão cromática e inovadora.
O sábado do SIMOF começou com SARA DE BENÍTEZ, que inspirou-se nas mulheres de Almodóvar. Sua coleção “Flamencas al borde de un ataque de nervios” propõe flamencas fortes, lutadoras, auto suficientes mas ao mesmo tempo, sensuais, atrevidas e femininas. O resultado são trajes modernos, elegantes e ajustados ao corpo, valorizando curvas e protagonizando os babados – marca registrada da estilista. Para os tecidos, optou pelo uso da lycra buscando comodidade e conforto para suas flamencas. Os tons flúor e o preto centraram grande parte da nova coleção.
“Relevé”, Rosalía Zahíno
No ballet, “relevé” é o movimento para elevar os calcanhares do solo, com esse conceito ROSALÍA ZAHÍNO idealiza sua coleção. Cheia de magia, onde a dança, as histórias encantadas e o flamenco se unem em uma só alma. Como nos outros anos, a estilista desfila muita sensualidade e provocação. Sem dúvida uma exaltação à mulher, fazendo com que nos tornemos dignas de um conto de fadas. Modelos que valorizam o corpo, transparências, dourados e muito bordado. Predominaram a riqueza dos babados, que apareceram de vários tamanhos e cortes, brincando com as cores e formas. Uma beleza sem igual, a moda em favor da arte.
“A mi manera”, Pilar Vera
PILAR VERA desfilou a coleção “A mi manera”, resgatando traços desde o início de sua carreira. Uma referência da moda flamenca, a estilista mostrou o que sabe fazer de melhor, trajes muito femininos, cheio de babados e com corte e costura perfeitos. Destacam-se as aplicações de renda no corpo e nas mangas e os mantoncillos como complemento. Sua paleta cromática começa com o branco puro, passa por fundo vivo com lunares brancos, muito colorido, uma série do clássico branco e preto, e então desfila flamencas com estampas super sofisticadas, compondo com transparências e mini lunares. As mangas são longas e os decotes são pronunciados. Os tecidos escolhidos pela sevilhana são algodão e seda, tecidos naturais e confortáveis.
“Siente Abril”, Nuevo Montecarlo
Logo em seguida, NUEVO MONTECARLO, idealizou uma coleção leve e confortável. “Siente Abril” trouxe à passarela a luz, as cores e a alegria da Feria. Apostou nos beges, brancos e tons pastéis, cores características da empresa. Modelos simples, corte canastero e trajes fáceis de usar.
“Jamás se pierde el estilo”, Loli Vera
O penúltimo desfile do sábado ficou a cargo de LOLI VERA e sua coleção “Jamás se pierde el estilo”, pensando principalmente em reestruturar os gastos pela crise que a Espanha enfrenta. Um trabalho bem elaborado onde a renda e os flecos ganharam destaque, aplicados de diferentes maneiras contribuíram para a valorização dos trajes. Quanto as cores, optou pelo uso do preto, vermelho e diferentes tons de bege.
“Sonibel Vintage”, Sonia & Isabelle
Por fim, assistimos SONIA & ISABELLE, que realizaram um resumo das tradicionais festas da primavera que ocorrem todo ano em Sevilha com a coleção “Sonibel Vintage”. O que vimos foram vestidos com muito decote, rendas e transparências, sobreposição de tecidos e babados pequenos misturados aos grandes, dando um lindo movimento aos trajes. Os tons pastéis e terra foram combinados com uma extensa gama de cores. E como novidade, criaram vestidos inteiros na cor preta, coisa que nunca haviam desfilado.
O último dia começou com o SIMOF Espacio Infantil, POL NUÑEZ, MARÍA CASTAÑA E DOÑA ANA desfilaram suas coleções para os pequenos.
Em seguida ADRIÁN GONZÁLES fez sua estréia no SIMOF com a coleção “Pensando en tí”, inspirada na estética dos filmes espanhóis das décadas de 60 e 70. O jovem estilista idealizou vestidos ajustados ao corpo coordenadas com boleros e apostou em saias e camisas. Recorreu aos tons de vermelho, coral, bege, rosa, azul e amarelo para o colorido de suas flamencas.
“Aires del Sur”, Hermanas Serrano
Depois, HERMANAS SERRANO e sua coleção “Aires del Sur” traduziram em suas flamencas, as raízes, história e evolução do traje regional andaluz. A proposta das sevilhanas são vestidos canasteros, com um cuidadoso trabalho em renda e mangas um pouco mais curtas. Tons pastéis, vermelhos e pretos como cores bases. Um coleção simples mas de muito bom gosto.
Faly, de la Feria al Rocio
O estilo inconfundível de FALY, DE LA FERIA AO ROCÍO, mais uma vez trouxe à passarela um minucioso cuidado com seus trajes super trabalhados e cheio de detalhes. Vestidos e saias com a cintura bem marcada e uma verdadeira arte com os babados, sobretudo os menores em forma de cascata, proporcionando movimento e leveza. Como complemento, as faixas que funcionam como cintos cuidadosamente bordadas em pedraria. Para as cores, a jerezana se entrega à diversidade, tanto pelos tons suaves como pelos mais fortes, chegando ao preto.
“Me embrujaste”, Carmen Vega
Encerrando todos os desfiles, CARMEN VEGA trouxe à passarela a coleção “Me embrujaste” nos transportando, por um momento, a épocas passadas, revelando uma flamenca com certo ar retrô. Muito diferente do ano passado, sua coleção brilha pelo movimento dos babados, sem economizar tecido mesmo nos trajes canasteros. E pela sensualidade e diversidade de decotes, que chegam a descobrir até os ombros.
As tendências são as mais variadas possíveis, vimos de tudo. Mistura de estampas, muitas possibilidades de decotes, muitos babados e trajes canasteros, um verdadeiro arco íris de cores… Mas os grandes protagonistas desse ano foram os complementos, talvez porque diante da crise, o número de vendas poderá diminuir, assim que os estilistas apostam em uma quantidade maior de possibilidades para brincar com as composições. Não há muita regra, o importante é sentir-se bonita e confiante e, principalmente, com muita personalidade.
Parabéns! Bom gosto, beleza e acredito que não exista palavras que definam o que vi da coleção inteira.
Gostaria de saber porque ao longo do tempo as saias Flamencas perderam suas lindas rodas?
Obrigada e mais uma vez Parabéns.
Abraço.